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terça-feira, 9 de outubro de 2018

A IMAGEM

A imagem é simultaneamente um objeto, uma figura, uma lugar de vivência. Ela pode te percorrer sem deixar marcas, mas ela pode te penetrar e te modificar. Pode promover em ti uma transformação no modo de ver a vida, pode te afetar.




















LAOCOONTE E SEUS FILHOS

É provável que tenha sido realizado no primeiro século dC.  para um patrono romano, pelos artistas Agesandro, Polidoro e Atanadoro, da Escola de Rodes. Pertence, portanto, ao último estágio da escultura grega clássica, o chamado período helenístico. Conheceu-se da sua existência graças a uma velha descrição de Plínio, o Velho, mas foi escondido no subsolo até que foi descoberto no ano de 1506, na cidade de Roma. O papa Júlio II enviou Giuliano da Sangallo e Michelangelo para identificar a estátua e desde então ela foi preservada nos Museus do Vaticano.Laocoonte é um dos personagens que aparece na Eneida, de Virgílio e na Iliada, de Homero. Natural de Troia, ele fez uma advertência aos compatriotas. “não aceitem o cavalo de madeira, presente dos gregos, ou seremos todos destruídos”.Mas voltemos a Laocoonte. Com sua advertência, ele não apenas chegou perto de frustrar todo o plano do exército grego. Ele desafiou os deuses, e os contos sobre essas criaturas não cansam de mostrar que isso nunca fica sem um castigo, muitas vezes cruel demais. Foi esse o caso de Laocoonte.[...] por "imagem" entendemos uma certa existência que é mais do que aquilo que o idealista chama uma representação, porém menos do que aquilo que o realista chama uma coisa - uma existência situada a meio caminho entre a "coisa" e a "representação" (BERGSON, 1999, p. 2).Um dos mais importantes autores da nova Teoria Francesa das Artes visuais, George Didi-Huberman (1998; 2013) é expoente nos estudos da imagem. Ele nos intiga a olhar para as imagens como sendo ao mesmo tempo paixões e questões, e orienta que façamos delas os “olhos da história” e com elas tomemos posições. Trata com ironia a tese de “[q]ue ver só se pensa e só se experimenta em última instância numa experiência do tocar” (DIDI-HUBERMAN, 1998, p. 31), que é a premissa da fenomenologia da percepção em Merleau-Ponty, como se o ato de ver acabasse sempre pela experimentação tátil. A fenomenologia sempre foi bem recebida no campo da arte, mas Didi-Huberman parte com ela quando diz que “devemos fechar os olhos para ver quando o ato de ver nos remete, nos abre a um vazio que nos olha, nos concerne e, em certo sentido, nos constitui” (ibid, 1998, p. 31).


[...] a arte é feita de imagens, seja ela figurativa ou não, quer reconheçamos ou não a forma de personagens e espetáculos identificáveis. As imagens da arte são operações que produzem uma distância, uma dessemelhança. Palavras descrevem o que o olho poderia ver ou expressam o que jamais verá, esclarecem ou obscurecem propositalmente uma ideia. Formas visíveis propõem uma significação a ser compreendida ou a subtraem. Um movimento de câmera antecipa um espetáculo e descobre outro, um pianista inicia uma frase musical “atrás” de uma tela escura. Todas essas relações definem imagens. Isso quer dizer duas coisas. Em primeiro lugar as imagens da arte, enquanto tais, são dessemelhanças. Em segundo lugar, a imagem não é uma exclusividade do visível. Há um visível que não produz imagem, há imagens que estão todas em palavras (RANCIÈRE, 2012, p. 15-16).