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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

talhos de foice

Arte de "fazer a cabeça"  em tempo de pouca cabeça 
A falta que o conceito faz
Se renunciar à “Arte” é difícil para alguns, é por que talvez ainda não se tenha entendido que a entrega à vida (ou à “realidade”, como alguns preferem chamar) não significa a nulificação do estético.
Muito pelo contrário, o “artista” aqui é o pensador, o criador de estratégias de ação, o arquiteto de atos que vão reverberar -a intensidade desta reverberação é claro que dependerá dos meios, finalidade e impactos planejados- nesta mesma “realidade”. Daí então a importância do conceito, desta mesma herança conceitual de que parte da arte brasileira é tão rica, e que tem sido esquecida faz tempo.
Ações pontuais e absolutamente despretensiosas, como a mudança do nome da avenida Roberto Marinho para avenida Vladimir Herzog, pelo Centro de Mídia Independente, em São Paulo, no ano passado, podem não passar por “Arte” nos cânones vigentes, mas seu poder simbólico é tal que serve para inspirar mais táticas conceituais que desmantelem o arcabouço mental dominante.
Se a arte conceitual tradicional transformou em “Arte” a rua e os elementos incompatíveis, temporários e cotidianos, atualmente o sentido não é transformar esses lugares e coisas em “Arte”, mas diluir-se “com arte” neles, ressignificando-os, ressimbolizando-os, efetuando uma transformação subjetiva ou real, semiótica, mitopoética, social ou ritual.
O ofício de arquitetar, de calcular efeitos, de planejar ações como quem planeja uma campanha de marketing, uma invasão, um assalto ou uma festa-surpresa, de pensar nos mínimos detalhes, de aplicar seu virtuosismo e conhecimento estético em minúcias que às vezes podem fazer grande diferença, de pensar ações que fujam do óbvio por terem justamente sido pensadas e calculadas, é o que pesa.
O ativismo brasileiro muitas vezes incorre na obviedade, da mesma forma que boa parte da arte que se diz política. Uma mensagem eficiente pode ser passada sem necessidade do panfletarismo rasteiro. Muitas vezes um conceito bem pensado e realizado pode dizer mil vezes mais que uma barulhenta passeata.
Se criadores de agências de publicidade podem burilar conceitos a serviço de um sistema que usa a criatividade para vender sabão em pó, por que os coletivos de artistas não podem fazer uso de conceitos de uma forma tão ou mais inteligente que as tais “indústrias criativas”?
Ricardo Rosas
É escritor, trabalha com ativismo e mídia tática e organiza festivais relacionados ao tema. É editor do site Rizoma 


(www.rizoma.net).
http://midiaindependente.org/pt/green/2004/10/292489.shtml



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